quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O adeus aos guarda-chuvas Sagebin



A máquina registradora do século passado que tem estampado na parte de trás Mil Réis já está tapada, pronta para ser pela primeira vez apenas um objeto decorativo. A tesoura importada da Bélgica de igual idade, cujo dono garante que não afia há vinte anos e desliza pelos tecidos como poucas, também será aposentada, assim como o ferro de passar trazido da França tão antigo quanto os outros artefatos encontrados no local.
O senhor de 81 anos espalha o tecido pela última vez em cima da mesa, usando o molde que o acompanha nos seus mais de 50 anos de profissão, ferramenta feita de material rígido, com a metragem rabiscada de lápis e com as pontas almogadas do tempo. Mesmo encerrando as suas atividades, ele não poderia deixar de fazer o último guarda-chuva, pedido de uma cliente, que sorridente trouxe um pano combinando com o traje. Ele não podia recusar.



Foi um tímido anuncio no jornal que divulgou o fechamento das portas do último estabelecimento especializado no conserto de guarda-chuvas e sombrinhas de Pelotas.
Mário Sagebin Filho, é conhecido pela excelência no seu trabalho, herdou a paixão pela profissão do sogro e assumiu o negócio da família.
Em tempos de edificações grandiosas, com arquitetura em moldes europeus e ornamentos rebuscados, os barões do charque enchiam de igual exuberância o interior dos prédios com móveis importados, feitos com dedicação e a altura do poder aquisitivo e exigência dos fregueses. Nos trajes e acessórios a mesma preocupação. Foi quando por necessidade de manutenção e criação de produtos na cidade, fábricas e serviços especializados surgiram para atender o mercado. Uma oficina de restauração de chapéus trabalhava exclusivamente na atividade, cinco funcionários atendiam a demanda que era grande, há registros que o primeiro ferro a vapor do estado foi adquirido por este estabelecimento.
Osório de Oliveira Tavares começou junto com o pai no ramo dos guarda-chuvas, muito utilizados pela elite pelotense, eram peças indispensáveis para a saída de casa. Tamanhos diversos, como as sombrinhas para moças, os guarda-chuvas coloniais, para aqueles que precisavam usar carroças se protegerem do sol ou então os duplos, feitos para duas pessoas com divisórias. Os materiais também variavam, alguns fabricados de seda pura, eram os preferidos pelas mulheres que escolhiam estampas e rendas, as peças podiam ser feitas também de algodão natural. Somente mais tarde chegaram tecidos impermeáveis e de maior resistência.
Quando Mário se casou com Célia, a filha do Tavares, ele passou a atender a clientela sofisticada, famílias importantes não só de Pelotas, mas de outras cidades e estados. O senhor simpático que conversa e se depara com o olhar distante, conta com saudade historias de um tempo bom. “Tinha uma goteira bem na entrada da primeira loja na rua XV de Novembro. As pessoas passavam e brincavam dizendo que era de propósito. O meu sogro sempre dizia que aquilo era para despertar os guarda-chuvas.”
O último profissional especializado no serviço manual de fabricação e conserto das peças já avisou que depois do dia 20 de setembro pretende parar com a atividade. Hoje ele atende a terceira geração de algumas famílias. Tem quem venha do Rio de Janeiro para consertar as sombrinhas. Em carnavais e outras atividades, ele produzia peças de época e “ao gosto do cliente”, mas a procura caiu bastante por causa da chegada de produtos da China.
A esposa de Mário está doente e ele pretende ir morar com os três filhos, treze netos e três bisnetos nos Estados Unidos. “Vou sentir saudade dos fregueses, da atividade. Aquilo que a gente faz com amor dá prazer. Cada obra que sai, fico olhando admirado e digo pra mim: Que categoria!”.
O número de sapateiros, alfaiates e outras profissões manuais estão diminuindo. Nas ruas os antigos prédios voltam a ser revigorados, a restauração do Grande Hotel e do casarão seis já iniciaram, mas os costumes e profissões dos tempos áureos da princesa do sul, estão se perdendo no tempo.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Escolhas


Meu avô sempre conta que quando tinha uns 16 anos o pai dele comprou uma bota de couro, bem cara, bonita para ele usar com a bombacha. Só que muito precavido comprou a bota dois números a mais esperando o pé do meu vô crescer. O fato foi que o pé dele nunca cresceu e a bota sempre ficou grande.



Nós rimos sempre dessa história, é engraçado pensar no meu avô com o pé nadando no calçado. Mas tem um outro lado que precisa ser analisado. O meu bisavô contou com uma coisa que não estava ao alcance dele, fez uma previsão sem nem ao menos consultar a parte interessada, se apoderou do poder de escolha do meu vô.



As vezes as pessoas fazem planos contando com o que elas não tem em mãos, contando com algo que depende de outra pessoa e quando constatam que não podem obter aquilo por uma escolha da outra pessoa que nem ao menos foi consultada se frustram. Frustrante também para quem diz o NÃO. Os meus amigos sabem o quanto sou leal e me entristeço quando não consigo alcançar as expectativas deles, mas algumas poucas coisas eu conquistei, e se ameaçadas viro bicho para defende-las.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Calça Jeans por um mundo melhor

Achei muito interessante a idéia de uma loja em um shopping em São Paulo. Eles dão desconto de 100 reais (claro, a loja não vende peças por menos de 400 reais, detalhe extremamente relevante!) para quem levar um jeans velho para trocar por um novo. As calças recolhidas serão doadas para o Exército da Salvação.

Pelotas é movida pelo comércio, gente de toda região vem comprar aqui, se o setor se unisse e promovesse campanhas como esta, não digo de arrecadação de roupa, acho que tem até demais, mas de alguma outra carencia, existem grupos com grandes necessidades. Claro, em uma promoção assim aqui eles não lucrariam tanto quanto lá na loja paulista, mas uma mobilização que iniciasse no poder público, passasse pelas instituições privadas, até a comunidade daria certo.

Para quem for dar uma passadinha pela terra da garoa e estiver com uma graninha a mais, a loja é a Jeans Hall no Shopping Iguatemi.